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#130 Casa do Conto. Porto

  Em 2008, o atelier Pedra Líquida encarregou-se de criar um novo conceito para um hotel – Casa do Conto, arts & residence – numa oportunidade única de dar vida a esta bela “casa burguesa”, do Porto oitocentista, conjugando a residência temporária com actividades culturais.
  Esta primeira proposta pretendia recuperar a memória da casa burguesa do final do séc. XIX: os salões com grandes pés-direitos, os tectos de gesso temáticos, a escadaria central, os marmoreados, as portadas, os rodapés…
  Infelizmente, a 6 de Março de 2009, alguns dias antes da inauguração pública do espaço reabilitado, o edifício sofreu um terrível incêndio que destruiu, por completo, o seu interior.
  A recriação da estrutura remanescente constituiu uma nova oportunidade de, usando a metáfora da Fénix, fazer renascer um novo lugar de vida, a partir das cinzas do edifício destruído.
  Nesse sentido, o novo projecto evoca, através de uma aproximação abstracta, a estrutura e a decoração da casa preexistente, usando materiais e técnicas tradicionais como molde das novas superfícies em betão aparente: na caixa de escadas central, na fachada traseira, nas casas de banho cúbicas que preenchem cada um dos quartos, e na clarabóia oval que ilumina o centro do edifício. Daqui resulta uma espécie de “arquitectura fóssil” na qual as novas superfícies reforçam a memória das já desaparecidas.
  Os tectos, também em betão aparente, são (re)decorados com textos de seis autores diferentes, gravados em baixo-relevo (apostos à cofragem), nos quais é possível ler diferentes narrativas sobre o conceito de “casa” e desta casa em particular.
  Na porta deste nº 703, lê-se “foi 513”; a Casa ressurge, assim, uma e outra vez, com a mesma fachada e o mesmo batente de mão de ferro que persiste em devolver à cidade as memórias que ela não deseja esquecer.

EQUIPA: Pedra Líquida

FOTOGRAFIA: Fernando Guerra
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