Casa do Conto

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Uma arquitetura fóssil

O nº 703 da Rua da Boavista representa um arquétipo dos loteamentos de casas burguesas que consolidaram o Porto do século XIX. Em 2008, o atelier criou um novo conceito para um hotel, reabilitando essa casa e conjugando a residência temporária com atividades culturais. Infelizmente, a 6 de março de 2009, alguns dias antes da inauguração do espaço reabilitado, um incêndio destruiu, por completo, o seu interior. 

Como arquitetos e criadores do conceito inicial, percebemos que tínhamos de reconstruir essa casa, se possível, de um modo tão qualificado quanto o anterior. De facto, a recriação da estrutura remanescente constituiu uma oportunidade de fazer renascer um pequeno hotel, a partir das cinzas do edifício destruído. Nesse sentido, o projeto evoca a estrutura e o ornamento da casa preexistente, usando materiais e técnicas tradicionais – como os ripados de madeira dos tabiques ou as chapas onduladas de revestimento – enquanto moldes das novas superfícies em betão aparente: da caixa de escadas central; da fachada traseira; dos lavabos cúbicos que preenchem cada um dos seis quartos; e da claraboia oval que ilumina o centro do edifício.

Daqui resultou uma espécie de “arquitetura fóssil” na qual as novas superfícies em betão reforçam a memória das já desaparecidas. Os tetos foram (re)ornamentados com textos gravados, em baixo-relevo (apostos à cofragem), nos quais é agora possível ler diferentes narrativas sobre o conceito de “casa”, e desta em particular.

Equipa
Pedra Líquida
Cliente
Casa do Conto
Ano
2009

Construção
Pedra Líquida
Fotografia
Fernando Guerra