Atelier Pedra Líquida

O espaço amplo onde se instalou o atelier Pedra Líquida foi construído no início do século XX para albergar pequenas atividades industriais, típicas do centro do Porto, como uma Tipografia e uma Oficina de Artes Gráficas, entretanto desativadas. Dessa ocupação anterior, distribuída por dois lotes geminados, restam algumas memórias: o open-space, outrora repleto por rotativas em permanente labor, algumas chapas de impressão, placas com avisos curiosos aos empregados e belos contadores em madeira. Essas memórias não se perderam totalmente, uma vez que o novo projeto evoca essa condição precedente, mantendo as graníticas fachadas principais, em estilo deco, mas também alguma da flexibilidade espacial interna.

A antiga Tipografia (lote esquerdo) será futuramente ocupada por uma pequena unidade hoteleira com 10 quartos – a Tipografia do Conto – cuja organização evoca a divisão industrial precedente, marcada por duas alas de laboração com um pátio-saguão no centro. A antiga Oficina das Artes Gráficas (lote direito) alberga, no seu primeiro piso, o novo Atelier Pedra Líquida, ao qual se acede, a partir da rua, por uma escada “de tiro” preexistente. Esta culmina na receção, área que divide os dois espaços principais do Atelier – a sala de reuniões, antigo escritório da Oficina, e a sala de trabalho, antiga área de “artes finais” deste pequeno complexo industrial.

Na primeira sala, mantiveram-se as paredes rebocadas, os tetos estucados e as divisórias em madeira. Na segunda, “descarnaram-se” as paredes e os tetos, desvelando antigos métodos construtivos, visíveis nas superfícies de pedra aparelhada e nos ripados de tabique remanescentes. A estas reminiscências juntam-se agora elementos “reciclados”, como armários e portadas aproveitadas de outras obras.

A dividir as duas salas, desenhou-se um novo volume “solto” das paredes e tetos, forrado a azulejo, o qual contém todos os espaços necessários ao funcionamento do Atelier: casa-de-banho, cozinha e economato. Embora bem definidas, todas estas valências comunicam entre si, resgatando a ampla dimensão de um espaço que, outrora, viveu uma outra atividade “oficinal”.